Se Simon Pegg e Edgar Wright resolvessem fazer um filme de vampiros, ele seria "Matadores de Vampiras Lésbicas". Bom, pode ser um exagero comparar o brilhante "Shaun of the Dead" com o longa de Phil Claydon, embora os elementos em comum estejam presentes: o refinado humor inglês que satiriza relacionamento instáveis, os personagens bobocas com seus diálogos agressivos e, ao mesmo tempo, ingênuos; e a sátira ao gênero terror remetendo a produções clássicas do estilo.

Desde os primeiros minutos, o filme já mostra o seu tom hiperbólico ao narrar um fato ocorrido há séculos, fazendo uso de cenários digitais no estilo "Sin City" e "300", com exageros que mergulham a produção num estilo cartoon (e não são gratuitos, já que a edição faz o corte de cena como uma revista em quadrinhos, em muitos momentos). Tudo isso para dizer que Carmilla, a Rainha dos Vampiros, transformou a amada de um cavaleiro da Cruzada em uma vampira lésbica, forçando-o a realizar um ritual e depois enfrentar a vampira com uma espada especial - mas, não antes da garota lançar uma maldição, envolvendo os descendentes do herói. Séculos mais tarde, somos apresentados a dois rapazes perdedores: o gordinho Fletch (James Corden) - que acabara de ser mandado embora de seu emprego como palhaço animador de festa porque agrediu uma criança - e Jimmy (Mathew Horne) - que levara mais um fora de sua namorada.

Ambos (emprestados da série da BBC "Gavin And Stacey") fazem o estilo "Shaun of the Dead" misturado com "Porkys": Fletch é um perdedor que só pensa em sexo; Jimmy é um perdedor que só pensa na namorada. Depois de seus infortúnios da vida pessoal, a dupla resolve fazer uma viagem para esquecer os problemas e, na sorte, acaba sendo levada a uma cidadezinha rural chamada Cragwich. Numa referência a "Um Lobisomem Americano em Londres", os rapazes chegam a um pub num local isolado e são encantados por quatro belas jovens numa kombi (a cena em que as jovens entram no veículo em slow motion é hilária), antes de seres convidados a passar a noite num hotel da região.

As garotas européias, com seus shortinhos e blusas decotadas, atiçam os hormônios de Fletch, que ignora as lendas locais e resolve encarar a possibilidade de uma noite de orgias. No entanto, as jovens são aos poucos "lesbianizadas" e "vampirizadas" por uma vampira local que pretende trazer de volta a rainha Carmilla (que depois voltará com um visual que remete "A Noiva de Frankenstein").

Engana-se quem pensa que "Matadores de Vampiras Lésbicas" terá um festival de corpos à mostra ou cenas de sexo. Apesar de seus protagonistas serem safados (mais o Fletch do que Jimmy), e as piadas envolverem sexo e drogas, o filme não apela para cenas assim: há muitas mulheres bonitas, claro, mas poucas tiram à roupa para a infelicidade dos tarados. Na verdade, o filme é uma homenagem a Hammer, principalmente à trilogia Karnstein, com seu horror sedutor, sem chegar ao extremo da referência.

Repleto de gags e diálogos divertidos ("deve ser uma ironia do inferno encontrar vampiras lésbicas. Imagino que também encontraria um lobisomem gay") como o estranhamento quanto à morte das vampiras ("só isso? Sem explosão, sem virar pó?"), o olhar de Fletch ao seios de uma das garotas no meio de sua fala e, obviamente, a cena em o padre diz ser o único que sabe matar vampiros ("todo mundo sabe! Estacas, degola, alho, luz do sol...Está nos livros, revistas e filmes!"), "Matadores de Vampiras Lésbicas" é uma ótima pedida para os fãs do humor inglês de "Monty Python" e para aqueles que não gostam de sátiras apelativas (como "Todo Mundo em Pânico"), nem bobas (como "Os Espartalhões"), com toques de horror.

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