"Strange Girls" tinha tudo para ser o melhor filme do Festival Internacional de Cinema Fantástico: duas ótimas atrizes e um argumento que perturba uma leitura prévia. Quando você imagina duas garotas idênticas se movimentando em sincronia e desafiando seus médicos (sempre substituídos devido a assassinatos, suicídio...) sem dizer uma única palavra, logo vem a mente uma produção sombria que dificilmente sairia da mente do espectador. Ora, imagina como seria interessante essas jovens talentosas orquestrando seus gestos, com seu olhar triste e linguagem de reflexo invertido, enquanto eliminam as pessoas que tentam separá-las...

Tendo essa expectativa, não é de se estranhar a decepção sentida no momento em que as garotas se afastam de outras pessoas e passam a se comunicar normalmente, rindo, se divertindo, dando um banho de água fria em tudo o que você imaginava. Logo, o público chega à conclusão que o problema delas é uma psicose em parceria; na verdade, as jovens são muito espertas, vivem num universo só delas, fechado à visitas.

As garotas são estranhas, mas não tanto quanto o filme de Rona Mark. Numa linguagem arrastada e previsível, o longa segue a vida comum das gêmeas em suas tentativas de iniciação sexual, enquanto se unem para matar as pessoas que a incomodam, seja a moradora do andar de cima, as vizinhas irritantes ou o rapaz que as menospreza.

Ainda que os defensores da obra apontem para uma linguagem alternativa ou tentem ver o filme como uma comédia de humor negro, não conseguem negar os inúmeros erros do roteiro da produção, sendo que alguns chegam a incomodar pelo absurdo de sua tentativa de convencimento. Por exemplo, se as garotas não falam com ninguém - nunca - como elas aprenderam a dirigir (como tiraram carta?), como descobriram o endereço da médica, como conseguiram fugir do local onde estavam, como conseguem esconder os corpos por tanto tempo, como fazem compras (quando precisa pedir o produto?)...e a lista não tem fim. Através de bilhetes, certo? Elas adoram escrever. Então imagine uma aula de direção em que as garotas apenas escrevem para fazer suas perguntas sobre para onde devem ir...

Além disso, as meninas somem, mas o hospital só percebe isso quando o vigia (isso mesmo) resolve investigar por conta própria e descobre que as pacientes não assinaram o livro de entrada e saída (!!!). E não é preciso dizer o absurdo dele desconfiar do envolvimento delas com um crime, através de um bilhete que nem sequer traz evidências disso. E a cena que ele invade a casa delas é de um suspense ralo, quase um frio na ponta da orelha.

Por outro lado, é impossível não notar o talento das atrizes Angela Berliner e Jordana Berliner. Ambas convencem em seu drama de convivência forçada, como se fossem xipógafas, mantendo a diferença no olhar, no modo como enxergam o pretendente e a coragem de ver alguém morrer, porém com a sintonia na arte de matar suas vítimas sem dó. As cenas de violência não são extremas, porém são carregadas de sadismo. E a ideia de fazê-las se encantar com a técnica de trepanação é de uma sutileza cruel...

Com um final previsível, porém com uma cena final assustadora, "Strange Girls" é a maior decepção do Festival, mas ainda assim merece uma conferida, mesmo que seja para visitar as irmãs assassinas e sair com um gosto amargo de "poderia ter sido melhor".

2 Necronomicon:

Eu infelizmente moro no Rio e não vou poder conferir os filmes da mostra, tenho uma ponta de inveja de ti! Mas lendo sobre os filmes esse foi o que me interessou mais. Pena que se trata de uma decepção.

[]'s

30 de junho de 2009 às 13:45  

Concordo. Entrei sorrindo e sai chorando. Valeu o filme pelo toque de humor e pelas atuações, por que, de resto...Talvez o problema maior tenha realmente sido a expectativa, eu fui assistir pronta para um terror pisicologico incrivel, e saí com a impressão de ter assistido um filme-quero-ser-humor-negro-e-zombar-da-sociedade, que, na minha opinião, falhou na tentativa. Só valeu pela *spoiler* furadeira na cabeça da vizinha chata e as citações feitas pelas personagens. Uma pena :\

30 de junho de 2009 às 13:47  

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