O interessante de participar de festivais como "SP Terror", "Fantaspoa", "Mostra BR" e o "CineFantasy" está na possibilidade de assistir a produções que dificilmente chegarão ao circuito comercial no Brasil. Curtas sombrios, longas de países onde você nem imaginava que seriam capazes de produzir algo pelo gênero; uma vez ou outra, aparece algum filme que você até estranha o fato dele nunca ter sido lançado em DVD no seu país devido ao seu conteúdo atraente e sua qualidade praticamente impecável. É o caso, por exemplo, da produção que vi no sábado (dia 14), em mais uma visita à Biblioteca Viriato Corrêa para encontrar amigos e se assustar com alguma pérola do terror cinematográfico.

Trata-se de "Il nascondiglio", exibido com o título em inglês "The Hideout" (O Esconderijo) - produção italoamericana, lançada em 2007, dirigida e roteirizada por Pupi Avati (que fez aquele filme de zumbis legais, o tal do "Zeder") com adaptação de Francesco Marcucci. Apesar de ser mais italiano do que da terra do Tio Sam - inclusive com uma atriz italiana como protagonista, Laura Morante -, o filme é falado em inglês e tem atores americanos como Treat Williams e Burt Young (sim, aquele da franquia "Rocky") e ingleses, como Rita Tushingham e Tom Rottger-Morgan. Infelizmente, o longa foi exibido sem legendas no festival, o que afastou alguns fãs do gênero que pretendiam acompanhá-lo.

No enrendo, após uma introdução num convento, com o desespero de algumas freiras quanto ao comportamento de duas jovens, o filme salta 50 anos, e acompanhamos a bela Lei, que acaba de sair de uma instituição mental, onde ficara para se recuperar do suicídio do marido. Com grandes pretensões como abrir um próprio restaurante, a mulher acaba alugando o casarão (o tal convento do início do filme), enquanto se organiza para seus novos propósitos. No entanto, ao passar a primeira noite no local, ela já percebe que a casa pode não estar tão vazia quanto ela imaginava.

Atormentada por assustadores cochichos - que mesclam o infantil com o sombrio (lembra do Smeagol?) - Lei não sabe se aquilo se trata de reflexos de sua passagem na instituição mental, onde ela dizia ouvir vozes, ou se há pessoas morando no ambiente. E a cada investigação e descoberta, ela percebe que pode estar mexendo com um passado que muita gente que enterrar, ao passo que a realidade aterrorizante vem aos poucos à tona. "Encontram três corpos, duas pessoas desapareceram; não havia pegadas na neve que indicassem que alguém saiu da casa após os crimes".

Para aproveitar ao máximo o seu conteúdo, o ideal seria não saber nada a respeito do filme; esperar que as surpresas saltem aos seus olhos, acompanhando a belíssima trilha e fotografia escura; além do clima de produção antiga de terror, com neblinas artificiais e rangidos de madeira.

É triste saber que muitos infernautas não terão acesso ao filme, caso alguma distribuidora não arrisque seu lançamento por aqui. Assim, fica a dica para que alguma empresa nacional lance a produção por aqui; ou algum blog de download legende-o para os fãs do gênero. Vejam o trailer e digam se não vale a pena:






O Boca do Inferno está fazendo a cobertura de mais uma mostra de Cinema! Depois do SP Terror, do Fantaspoa, da Mostra BR, agora chega a vez do prestigiado CineFantasy, o 4 Festival Curta Fantástico, com exibição de filmes fantásticos no "Centro Cultural Banco do Brasil", no "Cine Olido" e na "Sala Luiz Sérgio Person" (Biblioteca Viriato Corrêa). Nossos colaboradores estão enviando suas análises das produções exibidas nos dias 6 a 15 de novembro, e você poderá conferir com exclusividade os detalhes no site e nos blogs de parceiros.
No dia 12, fui ver dois filmes na Biblioteca: o documentário brasileiro realizado por estudantes de audiovisual de São Paulo intitulado "Submundo Sangrento" e o terror com zumbis em formato de falso documentário, "Reel Zombies" - ambas produções recomendadíssimas.


No caso de "Submundo Sangrento", temos diversos depoimentos e trechos de cineastas que contribuem para o terror underground nacional, em sua tentativa desesperada de buscar patrocínio e apoio. Fernando Rick, Rodrigo Aragão, Dennison Ramalho, entre outros, como o pessoal responsável pelo excelente "Cine Horror". Cenas de tosqueiras divertidas como "Feto Morto" e até "Mangue Negro" rechearam a produção de dez minutos, bem dirigida e editada. Parabéns às meninas pela ousadia e pelo talento demonstrados.


Depois teve início o falso documentário "Reel Zombies", mostrando uma equipe de produção de filme de terror, querendo realizar um longa de zumbis reais num mundo apocalíptico. Acostumados a fazer produções de ficção como "Zombie´s Night 1 e 2", o grupo mostra passo-a-passo o processo de desenvolvimento de um filme real com mortos-vivos, desde a seleção de atores, ensaios, reuniões de criação, testemunhos...Em seus 97 minutos, acompanhamos com bom-humor a escalação e treinamento de zumbis "reais", enquanto pequenos acidentes acabam transformando o filme num documentário de despedida da equipe, em ataques isolados de mortos.


É difícil dizer quem copiou quem: George A. Romero, em 2007, lançou o seu "Diário dos Mortos", nuam produção caprichada e interessante, apesar de inferior a filmografia do cineasta; já "Reel Zombies" é de 2008, mas segue uma linha diferente de realização ao mostrar a versão final do documentário e não uma cãmera na mão de um grupo que luta para sobreviver ao ataque das criaturas. De todo modo, ainda prefiro o do Romero, mais movimentado e bem feitinho.


"Reel Zombies" perde um pouco do seu impacto ao trabalhar com o humor; mas, resgata a atenção pela presença ilustre de Lloyd Kaufman, da Troma, em um dos momentos mais divertidos do filme. E também vale pela edição esperta que não permite que o documentário se torne extremamente arrastado.
Enfim, uma tarde de terror de primeira, prestigiando um festival que esperamos que retorne como um zumbi todo ano!


A "33ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo" terminou em 5 de novembro, após a exibição de 424 produções de diversos países nas categorias "Competição de Novos Diretores", a "Perspectiva Internacional", a "Mostra Brasil", "Retrospectivas" e a "Mostra Suécia". É sempre interessante participar desse prestigiado evento que é uma janela de acesso a filmes que dificilmente terão espaço nos cinemas, locadoras e lojas brasileiras.


Foi na Mostra de 2002 que tive o privilégio de conferir o excelente "Fácil de Enterrar" (Soft For Digging, 2001), que é um exemplo claro de produção que não teve lançamento no Brasil e muitos fãs do gênero perderam a oportunidade de conhecer o pesadelo do velho Virgil e seu encontro com a morte de uma criança.

Apesar de fã do festival, devido ao excesso de trabalho e alguns problemas de saúde na família, só consegui ver um único filme, o terror da Singapura "Macabro", no Cine Olido, ao lado de Felipe M.Guerra e dos infernautas Neto e Coffin Fang. E posso dizer que valeu bastante a pena - o filme não tem nada de inovador, mas é bem divertido e sangrento, um prato cheio para os fãs dos clássicos "O Massacre da Serra Elétrica" e "Fome Animal".

É a primeira produção do estúdio "Gorylah Pictures", da Singapura, e tem a direção da dupla da Indonésia conhecida como The Mo Brothers (Kimo Stamboel e Timo Tjahjanto), que, em 2007, dirigiu um curta chamado "Dara", a fonte de inspiração para "Macabro", já contando com a protagonista vilâ do remake, Shareefa Daanish. Aliás, é ela o maior destaque do filme, com seu jeito seco de lidar com visitas e sua voz carregada de simplicidade e maldade.

O enredo é bem simples: nos primeiros trinta minutos conheceremos 6 pessoas num pub em Bandung, pretendendo uma viagem para Jacarta. Na saída para a estrada, encontram uma jovem perdida, a bela Maya (Imelda Therinne), e decidem levá-la para sua residência. Se o grupo fosse fã de filmes de terror notariam os sinais claros de uma tragédia iminente como: a garota estar sozinha na região, sua postura atípica, a moradia sinistra com cabeças de animais e armas para todo lado, uma família que não esconde um lado sombrio. Inclusive, uma das jovens chega a presenciar um dos membros da família carregando algo pelo jardim...

Depois de uma bela refeição, sem a presença de dois amigos, um casal cuja esposa espera um filho em seu oitavo mês, todos acabam dormindo, sem conseguir ouvir a voz da anfitriã Dara pedindo que o filho leve-os para o sótão e prepare as ferramentas para algum ritual macabro. A partir daí, o filme engata uma quinta marcha, com o grupo tentando sobreviver aos quatro assassinos, enquanto fogem pelos cômodos da casa e pela mata. A diversão torna-se ainda maior quando chega um grupo de policiais para revistar o local, culminando num massacre em proporções inimagináveis, com tiros de bestas, espingardas e até uma batalha envolvendo uma motossera e um espada de Samurai - algo parecido com o que vemos no encontro entre Jason e Leatherface nos quadrinhos. A propósito, os The Mo Brothers têm o seu próprio Leatherface, um gordão escroto, sem rosto deformado, mas silencioso e sádico.

O que interessa em "Macabro" há de sobra: sangue, tripas, a violência que não poupa o espectador em mostrar ferimento nos olhos, nas mãos, queimaduras, membros decepados e até esqueletos de bebês - num dos momentos mais terríveis do filme. E ainda sequências que permitem o riso involuntário como os policiais na moradia, a imortalidade dos personagens - talvez por se alimentar de carne humana - e, principalmente, a canastrice de Adam, com seu olhar de maldade exageradamente teatral.

Ainda assim, recomendo às distribuidoras o lançamento no Brasil e aos infernautas que deem uma oportunidade para a família mais assustadora de Jacarta.

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