Quando os pais não querem que a criança ande sozinha, demore para dormir ou entre em cômodos perigosos da casa, eles costumam dizer que o "
bicho-papão" habita o lugar. Essa criatura assume diversas formas - dependendo da cultura do país e da criatividade da família - e nomes ("
o homem-do-saco", "
rato-do-nariz-vermelho", "
boi-da-cara-preta"), mas sempre esteve presente nos pesadelos infantis, desenvolvendo traumas que poderão seguir os pequenos até a fase adulta.
Nunca tive problema com filmes de terror exatamente porque meus pais nunca me impediram de ver produções do gênero e evitaram ao máximo desenvolver essas lendas bizarras. Mas, muitas pessoas que hoje temem assistir "O Exorcista" e "Evil Dead" dizem que a aversão ao estilo se deve ao medo criado na infância pelos pais que insistem em utilizar essas criaturas para "ensinar" seus filhos.
Em 2004, o mestre Sam Raimi e seu parceiro Robert G. Tapert criaram uma produtora especializada em lançar filmes de terror, a conhecida "Ghost House Pictures". Começou com o remake do oriental "The Grudge" e depois mais 18 produções nasceram dessa empresa. Filmes como "Os Mensageiros", "30 Dias de Noite", "Rise" e até o remake de "The Evil Dead" estão entre as obras desenvolvidas dessa parceria.
O segundo filme da produtora foi "
O Pesadelo" (Boogeyman), lançado em 2005, com a promessa de resgatar o medo primitivo do ser humano pelas criaturas que moram na escuridão. Partindo de uma idéia pouco original ("
Habitantes da Escuridão", "
Medo do Escuro", "
No Cair da Noite", "
A Hora do Pesadelo"), o filme trazia o ator
Barry Watson ("
Tentação Fatal") interpretando Tim Jensen, um jovem que, depois de testemunhar o sumiço misterioso do pai, teve que voltar a enfrentar seu medo do "
bicho-papão", com o falecimento da mãe, quinze anos depois. Ele resolve ficar na casa dos pais - em estilo gótico, com aspecto assustador -, com a intenção de enfrentar e vencer seu medo, além de descobrir o que realmente aconteceu com sua família. O filme até mantém um certo interesse enquanto a criatura não aparece, quando trabalha apenas com a sugestão, com o terror psicológico. Depois, quando tem início uma bagunça envolvendo passagens para outras dimensões, e o tal "
bicho-papão" surge como um monstrinho digital que não convence ninguém, o longa acaba se transformando numa bomba gigantesca, que faz jus ao título adquirido de "
pior filme terror de 2005". Curiosamente, o roteiro pertence a
Eric Kripke, que atualmente escreve para a série "
Supernatural".
Mesmo com o lançamento desastroso nos cinemas, a "Ghost House Pictures" anunciou duas sequências diretas-para-o-vídeo. A primeira, "O Pesadelo 2" (Boogeyman 2), lançada em 2007, deixou os fas do gênero com um pé atrás, já imaginando o quanto ruim poderia ser um filme que é continuação de uma produção terrivelmente horrorosa. No entanto, para surpresa da massa, o filme não só é "assistível" como consegue até, de uma certa forma, consertar os erros do longa original.
Ambientado num hospital psiquiátrico, o filme tem como protagonista
Laura Porter (
Danielle Savre), que teve o mesmo trauma do personagem do filme anterior, mas resolveu buscar ajuda com o Dr. Mitchell Allen (
Tobin Bell) e participar de seus métodos bizarros para enfrentar seu maior medo. No entanto, no melhor estilo "
A Hora do Pesadelo 3: Guerreiros dos Sonhos", alguém ou alguma coisa resolveu diminuir o elenco através de mortes violentas, que refazem os seus piores pesadelos. Apesar de termos Tobin Bell e algumas mortes que lembram "
Jogos Mortais", "
Boogeyman 2" torna-se interessante quando estabelece uma conexão direta com o primeiro filme, e relembra os bons slashers de antigamente. E as atuações são bem mais convincentes neste aqui, tem cenas de nudez e sangue escorrendo pelas paredes da instituição. Ainda que tenha suas falhas (a morte dos pais da jovem não é bem explicada), vale uma curiosa conferida.
Em 2008, a segunda continuação foi lançada em DVD nos EUA. Assim como o filme anterior, "
Boogeyman 3" teve um roteiro de
Brian Sieve, que mais uma vez acertou a mão ao desenvolver uma história totalmente conectada com os eventos anteriores, sangrenta e bem interessante. Desta vez, temos a bela
Erin Cahill como a protagonista Sarah, uma jovem radialista da faculdade que presencia a morte da amiga Jennifer, aparentemente vítima de suicídio. Na verdade, a garota já reclamava há algum tempo que estava sendo perseguida pelo "
boogeyman", mas Laura só pode comprovar os fatos quando viu a amiga sendo enforcada pela criatura em seu quarto. Aos poucos a cética passa a perder o controle quando novos sustos a perseguem e novas vítimas começam a surgir, confirmando os relatos do diário do Dr. Mitchell Allen sobre a existência desse terrível mal.
Se no anterior,
Brian Sieve lembrava o terceiro filme da franquia "
A Hora do Pesadelo", neste aqui as influências vieram de uma produção mais recente: "
Freddy Vs Jason". No crossover, Freddy precisava fazer as pessoas acreditarem em sua existência para surgir nos pesadelos dos jovens; neste aqui, a criatura se alimenta de sua crença - quanto mais pessoas acreditarem que ela existe, mais forte ela se torna.
O problema de "Boogeyman 3" é notado na dificuldade que o roteirista teve em terminar a história. Sem revelar detalhes que possam estragar a surpresa, posso dizer apenas que o filme terminou três vezes, exatamente porque o autor queria deixar um gancho para uma continuação. Se terminasse duas cenas atrás, o filme teria um conceito melhor e fecharia de forma positiva a trilogia. Ainda assim, é um bom filme, sem surpresas, um entretenimento ideal para aqueles que buscam uma produção divertida e sangrenta no gênero.
Nunca cheguei a assistir esse série, Boogeyman. Vou colocar na lista. Mas parece que tem outra série, do início dos anos 80, com o mesmo nome, deixando a cabeça dos espectadores um pouco confusa. Isso sem falar que tem um filme baseado em King (livro “Sombras da Noite”; conto “O Bicho-Papão”) com o mesmo título, acho que 1982.
Anônimo disse...
14 de março de 2009 às 09:45