Depois que as películas com mortos-vivos foram ressuscitadas com "Extermínio" e "Resident Evil", houve uma horda de produções do gênero com as populares criaturas comedoras de carne humana idealizadas por George Romero. Todo mundo quis fazer o seu. Com isso, cambalearam pelas locadoras e cinemas boas obras como "Madrugada dos Mortos", "Shaun of the Dead", "Terra dos Mortos", "Diário dos Mortos" e até o brasileiro "Mangue Negro", como também decrépitos trabalhos como "Dia dos Mortos: O Contágio", "House of the Dead", entre outros. Com o exagero de filmes iguais (mundo apocalíptico, vírus, criaturas velocistas...), o estilo cansou, sendo raros os longas que surpreendem de forma positiva apesar da fórmula repetida.
Recebendo várias críticas negativas pelos frequentadores do Festival, "Os Descendentes", realmente, não eram vistos com bons olhos. Com a expectativa em baixa, o público não irá se decepcionar: o filme é ruim mesmo! Dirigido pelo responsável pelo também fraquinho "Sangre Eterna", Jorge Olguín, a produção até teria a capacidade de conseguir uma boa média se não pecasse em alguns aspectos graves: atuação, montagem e roteiro. No enredo, após a disseminação de um vírus mortal que transforma os seres humanos em mortos-vivos, os poucos sobreviventes tentam entender porque as criaturas não atacam crianças e se isso tem a ver com o fato de algumas delas possuírem grandes cortes no pescoço. Assim, o público irá acompanhar a jornada de uma bela garotinha, Camille (não é a filha da Carla Perez...), por ambientes destruídos por batalhas cruéis entre os homens e zumbis, enquanto tenta cumprir uma promessa para a mãe, em seu último suspiro de vida.
É isso. A trama poderia ser resolvida num curta de no máximo 20 minutos, com um resultado bem mais satisfatório. Primeiramente porque boa parte do enredo simplesmente mostra a garota caminhando sozinha, e suas recordações do momento em que os zumbis começaram a atacar e contaminar as pessoas até a morte da mãe. A montagem repete algumas cenas diversas vezes - como a promessa da mãe - e a chegada da garota ao hospital, o que chega a incomodar o público ansioso. Além disso, algumas cenas são arrastadas e desnecessárias como quando Camille entra numa residência e investiga todos os ambientes, ou na sequência envolvendo um playground.
Se isso já fosse suficientemente ruim, a atuação das crianças do filme chega a dar pena. Por vários momentos, elas olham para a câmera, riem em cenas tristes, não conseguem chorar em momentos de dor, fazem tudo pausadamente como se aguardassem o grito do diretor. A própria protagonista é bonitinha, tem carisma, mas jamais poderia assumir a função principal e aparecer em demasia como acontece em "Os Descendentes". Para fazer justiça, a única que se salva como atriz é Karina Pizarro, a mãe de Camille.
Também é importante ressaltar a maquiagem dos zumbis, caracterizados como palhaços mal maquiados (rosto extremamente pálido, boca vermelha e borrada, olhos brancos). Embora sejam interessantes as transformações, os efeitos chegam a fazer rir aqueles acostumados com criaturas ósseas, decompostas. E ninguém explica como a Camille consegue ficar tão bonitinha (com chapéu, rosto limpo), se ela cai várias vezes na terra, foge por ambientes imundos.
Por outro lado, a fotografia é bonita. Fazendo uso de um fundo que remete corretamente aos desenhos de crianças (pelo menos, espero que seja isso), os aviões que cruzam a cidade e alguns cenários são bem construídos quando interagem com os personagens em cena - porém o barulho dos aviões e helicópteros não chamam a atenção das crianças.
No entanto, o maior defeito do filme de Jorge Olguín está no roteiro. Sem novidades, é extremamente lento e arrastado. Fica difícil se importar com a vida da menina se ela não é atacada pelos zumbis e os soldados que aparecem são tão incompetentes e ruins de mira. Ninguém sabe porque eles querem tanto matar a garota em alguns momentos, enquanto outros querem mantê-la viva para estudos. Mas, a grande decepção reside no final "Os Lusíadas", quando o filme fica colorido e o público percebe que os efeitos são ainda piores do que ele imagina.
Provavelmente o filme mais fraco do Festival, "Os Descendentes" é mais uma prova de que o estilo pode estar em processo de decomposição.
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