Durante os últimos quatro anos, os irmãos Sam e Dean foram, aos poucos, descobrindo que possuem papéis fundamentais na eterna luta do Bem contra o Mal. A princípio, tinham como objetivo apenas serem caçadores de monstros e demônios, um destino que herdaram do pai John Winchester. Também buscavam uma vingança pessoal contra "o demônio de olhos amarelos", uma entidade poderosa que assassinou a mãe dos rapazes e matou a namorada de Sam. Na temporada seguinte, perceberam que Sam era especial para o demônio, pois tinha um papel importante numa guerra que estaria por vir - assim, deram a ele alguns poderes, nunca bem desenvolvidos pelos roteiristas do seriado. Sam morreu, e Dean vendeu sua alma para que o irmão voltasse a viver. Dean foi arrastado pelos cães do inferno e passou aproximandamente 30 anos sob tortura do demônio Alastair. Não suportando mais a dor, Dean topou torturar almas para se livrar do sofrimento - algo que o pai dos jovens resistiu durante 100 anos até a chegada do filho. Resgatado do inferno, mas com a memória infernal do período que em esteve por lá, Dean se uniu novamente com Sam, que agora estava se relacionando com a demônio Ruby em busca de Lilith, uma criatura extremamente poderosa, considerada o primeiro Mal. Sam estava com a capacidade de exorcizar os demônios, sem a necessidade de realizar rituais ou matar a vítima, devido ao sangue demoníaco que tem ingerido - seguindo os conselhos de Ruby sobre a possibilidade de matar Lilith, que está quebrando os 66 selos que mantém Lúcifer preso.

Assim tem sido a série "Supernatural" nestes quatro anos intercalados com histórias envolvendo monstros, criaturas do mal, fantasmas...A possibilidade de um final de temporada inovador era a principal dúvida dos fãs, já que Sam estaria num caminho sem volta de auto-destruição, o que certamente o levaria ao lado negro da força. Será que teríamos uma quinta temporada envolvendo um confronto mortal entre os dois irmãos? Dean era aquele que menos se importava com as pessoas, mas foi aos poucos adquirindo humildade e serenidade, trocando de papel com Sam, que não importava com o alerta dos anjos que, aparentemente, surgiram para evitar que Lilith fosse capaz de resgatar Lúcifer (inclusive, Dean teria sido resgatado com esse propósito. Quando desistiu de sofrer torturas no Inferno, o rapaz acabou quebrando o primeiro selo e abrindo caminho para os 65 que viriam a seguir).

No decorrer da última temporada, os anjos também tiveram seus papéis invertidos - demonstrando interesse em libertar Lúcifer por motivos honrosos, mas que levariam o mundo ao Apocalipse. Enquanto Ruby parecia ser uma demônio do bem, cuja intenção seria apenas matar a tal de Lilith, treinando Sam para tal feito.

Chegamos, então, ao último episódio da quarta temporada, "Lucifer Rising" (uma relação direta com o título do primeiro episódio), que começa com Sam abandonando o irmão depois de uma briga, ignorando a ameaça sobre não voltar mais. Enquanto Sam se preparava com o encontro com Lilith, antes que esta quebre o último selo, Dean foi arrastado a uma sala especial pelos anjos para assistir de camarote a morte de Lilith e o retorno de Lúcifer.

O final já era esperado pelos fãs. Bastava ver o título do episódio e lembrar das palavras do Profeta para saber que isso era inevitável: Lilith não sobreviveria ao Apocalipse. Logo, a morte dela seria a responsável pela quebra do último selo, algo que Sam e Dean podiam ter imaginado se tivessem lido a Bíblia ou se buscassem saber quais são os tais selos. Assim, não dá para disfarçar a decepção ao perceber que tudo que estava previsto aconteceu exceto a possibilidade de Sam ser o recipiente de Lúcifer. Ainda que os fãs digam que isso ainda possa acontecer - e eu também acredito nessa possibilidade - há grandes chances que a próxima temporada envolva um Lúcifer fraco, precisando resgatar suas forças (durante 20 episódios), enquanto Sam e Dean enfrentam monstrinhos pelas cidades americanas. Lúcifer seria uma espécie de Voldemorte, enquanto se prepara para se vingar do bruxinho adolescente.

E a tal frase proferida por Dean sobre Sam não voltar mais? Como nas últimas cenas de "Lucifer Rising", Sam segurou Ruby para que Dean o matasse, essa união pode indicar um retorno aos velhos moldes de todas as temporadas. Isso é ruim? Para aqueles que não gostam de inovações, é ótimo saber que teremos episódios divertidos, engraçados e assustadores. Mas, para aqueles que esperam por ousadias, fica claro o gosto de "podia ter sido melhor". Imagine uma temporada com Sam e Dean de lados opostos, cruzando os caminhos por diversas vezes, se enfrentando como a Bíblia anuncia: irmão contra irmão. De todo modo, teremos que esperar pelas notícias que certamente invadirão a net.

"Lucifer Rising" não é um episódio ruim. Ainda que tenhamos um momento de prisão temporária de Dean, que segurou os eventos do episódio, a revelação do caráter de Ruby e a sequência final foram realmente interessantes - apesar da batalha com Lilith não ter tido muita emoção. Ver um acidente de carro, o demônio de olhos amarelos ser morto, Dean indo para o inferno...foram finais surpreendentes, mas a chegada de Lúcifer soou como "eu já sabia". Não precisaria ter o dom do Profeta para adivinhar como essa temporada terminaria...

Vamos aguardar a quinta temporada...

Continuando exatamente onde terminou o episódio anterior, Sam está preso num quarto anti-demônio da casa de Bobby, sofrendo de abstinência por causa do sangue que o tem alimentado durante toda a temporada. O tal sangue demoníaco tem deixado Sam mais poderoso para enfrentar as criaturas do mal, mas extremamente dependente do líquido vital. Assim, enquanto decidem o que fazer com Sam - e a revelação de Dean sobre a possibilidade de ferir o irmão -, o rapaz passa a sofrer alucinações assustadoras envolvendo seus piores medos e erros do passado.

Apesar de decisivo, o penúltimo episódio da quarta temporada é, por vezes, extremamente chato e estático. Mesmo sabendo que os últimos selos estão sendo quebrados - e as melhores cenas envolvem as citações às tais quebras e alguns fatos isolados ocorrendo pelo mundo -, o episódio é centrado muito no desgaste físico e psicológico de Sam, enquanto encara seus erros do passado (sua escolhas de infância, seus atos sob os olhos de sua mãe e dos demônios). Deste modo, o episódio acaba se tornando fechado num único ambiente, mesmo com a atuação perfeita de Jared Padalecki. São fatos curiosos, mas pouco dinâmicos. O melhor ficaria para os minutos finais...

...quando temos a revelação de uma ajuda misteriosa à fuga de Sam e o confronto dos irmãos numa briga violenta que culmina numa frase que os fãs da série Buffy devem se lembrar com clareza: "Se sair por essa porta, não volte mais". Buffy nunca mais voltou...
A impressão que temos é que o episódio pode ser o divisor de águas para uma temporada diferente, com os irmãos lutando de lados opostos - o que seria inovador e ousado!

O destaque do antepenúltimo episódio da quarta temporada está na atuação de Misha Collins, que aqui mostra o seu talento ao conduzir dois personagens: Castiel e sua versão humana, Jimmy Novak. Conforme o próprio anjo já havia dito em seus primeiros momentos na série, ele estaria usando um "recipiente", um corpo de um humano devoto, pois sua verdadeira forma é incompreensível para o homem. Durante um belo sonho de pescaria, Dean é surpreendido por Castiel, que pede que ele compareça com urgência num endereço secreto porque ele precisa revelar algo. Assim que chegam ao local, um espaço em ruínas com uma estranha mensagem na parede, encontram a versão humana de Castiel, o pai de família Jimmy Novak.

Sem lembrar de nenhuma mensagem de seu hospedeiro, Jimmy só quer voltar para sua família e comer bastante, mas Sam e Dean sabem que Castiel sabia demais e agora será um alvo fácil para os demônios. Cabem aos irmãos protegê-lo, enquanto tentam descobrir o que pode ter acontecido com o anjo. Durante um momento de vício de Sam - que precisa de sangue demoniaco e não consegue entrar em contato com Ruby - Jimmy consegue fugir e ir ao encontro de sua filha Claire e sua esposa Amelia, sem saber os riscos que está correndo ao fazer isso.

Algo interessante que acontece no episódio "The Rapture" é a revelação do momento em que Jimmy foi convocado a emprestar seu corpo para Castiel. Além de curioso, é difícil não se comover com o destino trágico e triste do pai. E a comoção se deve exclusivamente a Misha Collins, que consegue mudar o tom de voz e a postura para interpretar cada personagem. Notem que Castiel tem um olhar vago, uma voz seca, enquanto Jimmy tem um olhar triste e uma voz mais afinada. Méritos para o desempenho brilhante do ator!

No final do episódio, Bobby e Dean prendem Sam no "quarto do pânico", deixando o espectador surpreso e angustiado com o grande final que se aproxima.

"The Rapture" pode ser considerado um dos melhores episódios da temporada. Traz informações interessantes sobre a quebra dos selos, mostra a chegada do anjo Castiel e apresenta um final bastante tenso, quando preocupa o público sobre o destino de personagens secundários. Notem que a temporada está marcada por essa palavra: destino!


Segundo o Wikipedia, a expressão "jump the shark" é usado pelos críticos e fãs de seriados de TV para classificar aqueles episódios ou momentos da série em que algo absurdo acontece, numa tentativa desesperada dos realizadores de aumentar a audiência de seu produto. Numa ironia típica dos roteiristas de "Supernatural" - que não tem problemas com a audiência - o nono episódio da quarta temporada surpreende por apresentar um novo personagem à trama fazendo com que os espectadores comecem a imaginar possíveis mudanças drásticas no futuro do seriado. Provavelmente, neste episódio, exclusivamente, a expressão também poderia ser traduzida como "pular a cerca", já que a história envolve um relacionamento de John Winchester fora do casamento e um irmão bastardo para Sam e Dean.

O episódio começa com uma mulher fugindo desesperadamente pelos cômodos de sua moradia até ser arrastada para baixo da cama por alguma criatura desconhecida. Momentos depois, Sam e Dean recebem uma ligação no celular do pai: um jovem quer entrar em contato com John, alegando ser seu filho. Acreditando se tratar de alguma armadilha sobrenatural, os irmãos Winchester realizam um encontro num restaurante e fazem alguns testes para indentificação de monstros com o rapaz, o tal do Adam Milligan - impressionante como os realizadores conseguiram encontrar um ator que se parecesse com os irmãos!

Sem provar suas teorias - para o descontentamento de Dean, que não queria acreditar que os sumiços misteriosos do pai teriam um fim extra-conjugal em Minnesota -, os irmãos decidem ajudá-lo o jovem a desvendar o sumiço misterioso da mãe. Ao constatar que a vítima serviu de alimento para alguma criatura desconhecida, o trio inicia uma investigação, ao passo que Sam, aos poucos, vai demonstrando um interesse de irmão mais velho em ajudar o novo membro da família, ensinando-o alguns truques e uso das armas. Tudo culmina numa revelação angustiante numa velha cripta, deixando em evidência os valores familiares de ambas as partes.

Entre discussões de ciúmes, "Jump the Shark" consegue manter a atenção do espectador e ser um episódio bastante divertido e sangrento graças a uns momentos envolvendo pedaços de corpos e tortura - algo não muito comum na série. Boas cenas de suspense e claustrofobia, uma criatura assustadora - mas poupada da maquiagem -, um final triste e silencioso e a constatação de que o destino dos irmãos não é bonito e não deve servir de herança para ninguém.

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