O POST MAIS DIFÍCIL...


Quando Louis Creed resolveu enterrar seu filho num cemitério indígena com a esperança de vê-lo vivo novamente, a tendência é considerarmos esse ato insano e absurdo....porém, é facilmente compreendido quando perdemos alguém que realmente amamos. A simples possibilidade de rever essa pessoa querida seria capaz de fazer qualquer um buscar uma pata de macaco para a realização do mórbido desejo.

Dia 10 de abril de 2010, partiu para uma nova vida José Roberto Milici - mais do que um superpai, um grande professor, desenhista, jornalista, escritor, poeta....São tantas as boas recordações que tenho dele que me faltam palavras - não lágrimas - para expressar o que sinto.

Lembro do meu pai me levando correndo ao hospital com minha mão esquerda ensanguentada depois que perdi um pedaço do meu dedo na porta de casa, quando eu apenas um toquinho e queria que meu irmão não fosse à aula. Esse mesmo pai tiraria uma lasca de metal do meu peito, naquele dia que quebrávamos o quintal de nossa nova morada.

Ele também foi o responsável pela exibição do filme "Drácula", de 1979, na parede da casa da minha avó, fazendo com que eu me tornasse um fã de filmes de terror. Cresci admirando seu fascínio pela série "Além da Imaginação" e escritores como H.G.Wells, além de outras clássicas produções do gênero fantástico. Foram muitas as conversas sobre "De Volta para o Futuro", na saída do cinema, e a empolgação quanto à estreia de "Indianas Jones e a Última Cruzada".

Na Teodoro Sampaio, o senhor Miliumas comprou minha bateria oficial, incentivando minha falta de talento com os ritmos. E ainda seria capaz de filmar e estar presente nas minhas apresentações nas quermesses e eventos. Aliás, foi uma poesia dele, "Primavera", que deu vida à minha primeira banda: "Merlin".

Graças a ele que comecei a trabalhar na Brinquedo Estrelas, acordando cedo e partindo todas as manhãs para Guarulhos. Imagino quantas vezes ele teve que justificar meus erros na empresa, evitando uma demissão precoce. Perdi muitos passeios para o trabalhando cochilando no carro, enquanto eu podia ter conversado mais, aprendido mais...

Tentei segui-lo de todas as maneiras, mas nunca com o mesmo talento: fiz três anos de curso de desenho na Poliarte, chegando até a pintar quadros; estudei Letras e me tornei professor, buscando na curiosidade e simplicidade as metas de minhas aulas; escrevi poesias, contos, letras de músicas...mas, não adiantava. Ele foi o embatível Miliumas, sempre surpreendendo seus filhos com novidades: virou ator e roteirista, tendo a amizade de personalidades como a escritora de novelas Glória Perez, entre outras.

O Zé, como ele era conhecido, deixou de conhecer a Grécia, apesar de sabe-la mais do que qualquer pessoa, em prol dos estudos dos filhos. Quantas vezes deixou de fazer algo para nos buscar nas festas, nos trabalhos e eventos; para me ensinar as declinações do Latim ou a verter longos diálogos para o inglês; para desenhar histórias em quadrinhos divertidas...

Meu pai era aquele sujeito capaz de bater boca com vizinhos e rapazes agressivos da Vila Carioca para me defender. Ou talvez aquele que nem sequer levantou a mão para mim em qualquer época da minha vida, mesmo quando bati seu carro ou tive problemas na escola. Sofri quando repeti de ano pois ele simplesmente optou pelo silêncio ao invés de me dar bronca.

São muitas as recordações desse superherói, desse superpai...

Após 60 anos de brilho neste planeta, Deus optou por levar embora a minha estrela. Mas, sei que ela estará sempre iluminando o céu e cuidando de mim para que eu faça as melhores escolhas.

Por enquanto, fica o meu muito obrigado por tudo o que você fez por mim...

Papai, tenho muito orgulho de ser seu filho!

Te amo para sempre...

7 Necronomicon:

poxa bicho... q pena. Muita força agora! É pra isso que nos poem no mundo. Sinceras condolencias.

19 de abril de 2010 às 12:52  

Não há o que dizer. Passamos por isso juntos como irmãos e só a fé pode dar a certeza de que esse filme tem um final feliz.

19 de abril de 2010 às 12:59  

Nossa... Sinto muito mesmo. Sei que parece besta um desconhecido falar isso, mas sou superligado com meu pai, e só de ler seu post, já derramei umas lágrimas aqui. Não consigo imaginar algo assim acontecendo comigo, acho que eu perco as estribeiras. Enfim, muita força pra você, o tempo vai diminuir sua dor. Não vai curar totalmente, mas vai diminuir. Abraço.

19 de abril de 2010 às 13:16  

Marcelo, os e-mails que trocamos foram sempre utilitários e nossa relação sempre foi profissional, mas eu quero dizer aqui que eu te admiro muito, e eu sei que é difícil consolar neste momento, e que o que eu disser não vai deixar as coisas mais fáceis, mas eu tenho certeza que o orgulho que você tinha pelo seu pelo seu pai era correspondido. Pelo que eu conheço de você, pelas suas palavras, pela sua personalidade e por tudo que ouvi daqueles que te conhecem pessoalmente (o que eu espero fazer um dia), pode ter certeza, que o seu pai tinha muito orgulho de você.

Abração, amigo. Estamos com você.

19 de abril de 2010 às 13:59  

Marcelo, conheci seu pai antes da cirurgia dele. E pelo nosso pequeno tempo de amizade, pude perceber quão a grandiosidade de sua alma, pela família, pela arte, e pelas línguas antigas. Sou uma apaixonada por latim e seu pai me incentivou a continuar a aprender. Devo isso a ele. E quantas frases ele corrigia quando eu escrevia errado em latim. Que bom que vc o teve ao seu lado e tenho certeza que ele soube reconhecer vc. Beijos, fique com Deus.

19 de abril de 2010 às 14:48  

Esse mundo era muito pequeno pra ele Marcelo.
Não fique triste, um dia vcs se encontrarão novamente. Os seres que se amam, se atraem e, principalmente numa outra dimensão onde a sutileza impera e tranquilamente espera o reencontro.
Seja sempre agradecido por ter tido a oportunidade de conviver com um espírito tão evoluído como o de seu pai e que ensinou a ser um filho tão amoroso como vc é.
Fique bem...abraço!

19 de abril de 2010 às 19:10  

Força cara, desejo que você supere esse momento difícil. Nunca tivemos como falar mais, além de algumas trocas de e-mails, mas por aí e por tudo o que você escreve pode-se perceber a pessoa cortês, gentil que você é. Agradeço a oportunidade que você me deu de me aventurar na crítica de terror, e tenho certeza que você vai continuar dando sequência a sua vida com muito sucesso. Tudo de bom pra vc, Marcelo.

20 de abril de 2010 às 14:24  

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